VENHA CONHECER O MURAL ARTÍSTICO SOBRE AS RAÍZES
ANCESTRAIS DO BAIRRO DA GLÓRIA!
CAMINHO SE FAZ AO ANDAR
O projeto cultural e artístico Caminho Ancestral da Glória foi concebido para trazer à tona a importante questão sobre a presença indígena na cidade do Rio de Janeiro, e em especial, no bairro da Glória.
Matriz evidente da carioquice, a cultura dos índios tupinambá que originalmente ocupavam e cultivavam essas terras, aldeias, famílias e simbolismos, e se desenvolvia em profunda conexão com natureza, foi e, ainda está totalmente apagada da memória da cidade e dos seus habitantes.
O projeto nasce junto com o site Ó Glória! (ogloria.art.br), cuja vocação é contar a história da evolução urbana e monumentos de um dos bairros mais ricos em patrimonialidade material e imaterial da cidade. Todavia, este repertório arquitetônico e paisagístico, por mais bonito, singular e extraordinário que seja, marca também o apagamento de nossa ancestralidade. Feitos de pedra e bronze, os monumentos ao almirante, ao navegante, ao santo padroeiro, reforçam parcialmente uma versão da história que desconsidera o Rio, antes de ser a cidade do Rio. É sobre isto que precisamos falar: nosso aldeamento não tem apenas quatrocentos e cinquenta e oito anos. Aqui, nesta região, se localizava a aldeia Carioca há muitos e muitos anos dos exploradores portugueses chegarem. E até hoje, carioca é como os nascidos na cidade são conhecidos por si e pelos outros.
Como descartar esta influência ancestral em nossas vidas, que faz parte do DNA desta cidade?
Estas questões têm sido apontadas pelo coletivo Rio Tupinambá Karioka*, formado por especialistas do tema e moradores do bairro, que desde 2021, vem buscando dialogar com a prefeitura do Rio de Janeiro para o reconhecimento do território indígena, nomeação da praça Uruçumirim no local onde se deu a batalha e outras ações culturais que revelem e fortaleçam a matriz indígena nesta região.
(*) Coletivo Rio Tupinambá Karioka: Cesar Duarte, Jair de Souza, Mariana Varzea, Milton Guran, Paulo Knauss, Rafael de Freitas, Roberto Ainbinder, Sergio Pugliese e Toni Lotar
Isto posto, gostaríamos de dizer que o desenvolvimento da ideia em um mural-galeria de arte a céu aberto é resultado de uma escolha e muitas inspirações.
A escolha foi pelo local e está justificada pela importância histórica desta região para a formação urbana da cidade. É ali, naquele morro, onde viviam indígenas aldeados, que se deu a batalha de Uruçumirim e a conquista do território tupinambá. Os detalhes desta história, que conhecemos por meio dos relatos de viagens e pesquisas que foram realizadas posteriormente, serão apresentados mais adiante. Para além desta história, a vocação artística da área já havia sido despertada pela bela obra escultórica de Iole de Freitas, primeiro e único site-specific permanente da renomada artista brasileira, instalada na Villa Aymoré, em 2016.
O nome Caminho Ancestral faz referência a duas expressões, ou melhor, duas recomendações, que nos ajudaram a avançar neste processo contemporâneo de pesquisa, memória e criação de uma nova cartografia urbana carioca.
A primeira recomendação é a seguinte: “caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar”, do poeta espanhol, Antonio Machado. Se a gente quer um outro futuro para nós, mais sustentável, menos violento e em maior sintonia com nossa vocação cultural, é essencial repensar os gestos e refazer os passos.
É neste sentido, que segunda recomendação é essencial, “seja um bom ancestral hoje”, de Anapuáka Tupinambá, uma convocação para que se reconheça e proteja nossas origens ancestrais, afinal de contas, nossas terras estão cheias de espíritos, as flechas ecoam no ar e não podemos mais ignorar isto.
Foi com estas recomendações que engajamos os artistas e parceiros para a criação do mural-galeria Caminho Ancestral da Glória, cuja realização só foi possível graças à seleção no Edital Rua Cultural, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Agradecemos imenso a oportunidade de transformar este sonho em realidade.
E assim, apoiados pelo edital, convidamos cinco artistas e um designer para recriar o caminho sobre os muros da Ladeira da Glória, entre os números 26 e 98. Após as trocas de ideias, cada um deles plasmou a sua visão do caminho. Antonio Ton criou um mural com referências a essas várias camadas históricas; Mana Bernardes criou um poema inédito e o registrou com sua linguagem manuscrita sobre a terra Uruçumirim. Anápuàka Tupinambá criou uma instalação sonora com músicas compostas por artistas indígenas de todo o Brasil. Somam-se a estas intervenções as fotografias em grande formato Cesar Duarte e Milton Guran. O projeto conta também com a participação do designer Jair de Souza, que criou uma marca para o território Uruçumirim.
Hoje, o mural-galeria Caminho Ancestral da Glória é uma realidade e pode ser visitado a qualquer hora do dia, todos os dias da semana, de forma gratuita. O conjunto das obras ocupa mais 300m2 de muro na Ladeira da Glória, e resulta numa criação artística inédita, composta por diferentes visões e linguagens contemporâneas
O projeto ocupará este espaço até março de 2023. Ficaremos imensamente felizes com a presença. Não podemos deixar de registrar aqui o nosso agradecimento ao João Braune, diretor da Casa da Glória e ao Dalton Pastore, presidente, da ESPM, por abrigarem este projeto tão inspirador, quanto único na cidade.
Por fim, esperamos que ao caminharem por nossa ancestralidade, os moradores, estudantes e visitantes do bairro da Glória, vibrem conosco o que há de mais poderoso na cultura brasileira, a sua imensa e monumental diversidade.
TERRITÓRIO E SUA HISTÓRIA
Onde hoje é o Rio de Janeiro e junto à foz dos rios que formavam a baía de Guanabara. Estima-se que existiam à época da chegada dos europeus, mais de oitenta aldeias indígenas, com cerca de mil pessoas em cada uma. A mais famosa delas era a Karioka, que era o nome do rio que margeava a aldeia.
Em 1500, este território passou a fazer parte da cartografia econômica europeia de formas distintas. Os portugueses, por meio da catequização dos povos originários e uso de mão de obra escrava para geração de riquezas, e os franceses, que aqui aportarem em 1555, com objetivo inicial fixar uma colônia francesa e exploração do pau-brasil. Ao contrário dos portugueses, a relação com os Tupinambá foi amistosa e ultrapassou o escambo, gerando o nascimento de muitos descendentes franco-Tupinambás durante os doze anos dessa convivência.
Para retomar as terras cariocas e expulsar os franceses, Mem de Sá, Governador Geral do Brasil, busca consolidar a ocupação territorial do Rio de Janeiro por meio da fundação de uma cidade. A chegada de Estácio de Sá e sua tripulação de 200 homens numa praia entre o morro Cara de Cão em 01 de março de 1565, marca a chegada definitiva dos colonizadores nessas terras e passa a ser considerada a data de fundação da cidade do Rio de Janeiro.
Como resistência à escravização portuguesa e a disputa territorial, em 1554, as tribos indígenas, da região de São Paulo ao Espírito Santo, sob a liderança dos caciques Cunhambebe e Aimberê, formaram uma aliança, que veio a ser conhecida com a Confederação dos Tamoios, ao mesmo tempo em que os Temiminó, inimigo dos Tupinambá, se aliam aos portugueses, dentro da disputa entre portugueses e franceses pela supremacia das terras indígenas.
Para retomar as terras cariocas e expulsar os franceses, Mem de Sá, Governador Geral do Brasil, busca consolidar a ocupação territorial do Rio de Janeiro por meio da fundação de uma cidade. A chegada de Estácio de Sá e sua tripulação de 200 homens numa praia entre o morro Cara de Cão em 01 de março de 1565, marca a chegada definitiva dos colonizadores nessas terras e passa a ser considerada a data de fundação da cidade do Rio de Janeiro.
Em 20 de janeiro de 1567, com reforços vindos de Salvador e apoio dos índios Temiminó, liderados por Arariboia, Estácio de Sá invade definitivamente as terras Tupinambá, na Batalha de Uruçumirim, travada no morro do Leripe e nas praias do entorno. A Karioka e demais aldeias são destruídas, os franceses expulsos e milhares de índios dizimados. O padre jesuíta José de Anchieta relatou à época que as aldeias foram incendiadas, “passado tudo a fio de espada". A Batalha de Uruçumirim marca a transformação do Rio de Janeiro, de uma região de aldeias indígenas numa cidade colonial portuguesa. Portanto, a história da fundação do Rio de Janeiro é produto da disputa colonial que desencadeou um violento processo de conquista de território que se favoreceu de conflitos e rivalidades indígenas ancestrais, impondo o domínio colonial português nos séculos subsequentes.
A Ladeira da Glória, sobre a qual os escravos do século XVIII, ergueram uma das mais belas construções barrocas, a Igreja da Glória, foi retratada em inúmeras iconografias da cidade ao longo dos últimos séculos, porém, a história que jaz por baixo de seus caminhos de pedras e sobre as cinzas da paliçada de Uruçumirim, ainda é desconhecida pela maioria dos cariocas e brasileiros.
Se quiser conhecer mais esta história e a evolução do bairro, visite o site ogloria.art.br
ARTISTAS E OBRAS
CESAR DUARTE
Fotógrafo, desde 1985 trabalha em estúdio próprio e seu foco principal tem sido as vistas urbanas e a fotografia comercial de estúdio. Formado em Comunicação Social pela PUC-RJ em 1989, tem experiência tanto na área publicitária como na área editorial e da fotografia corporativa, tendo nesses últimos anos colaborado com grandes empresas. Em 2006, fundou a Edições Uiti e lançou livros de grande impacto no mercado editorial, como Árvore Cidade Rio de Janeiro, Árvore Cidade São Paulo, Arte Ambiente Rio de Janeiro, entre outros. Os dois primeiros foram agraciados com dois prêmios Pini de excelência gráfica.
OBRA
Especializado em retratar o rio de janeiro, o fotógrafo César Duarte faz um ensaio fotográfico-digital sobre a natureza carioca, de forma a reimaginar a região, antes de se transformar em cidade colonial. É a potência ancestral de nossa paisagem, presente nas raízes que interligam os tempos desse território.
MILTON GURAN
Fotógrafo e antropólogo, mestre em Comunicação Social (UnB, 1991) e doutor em Antropologia (EHESS, França, 1996), com pós-doutorado na USP (2004). É pesquisador do Laboratório de História Oral e Imagem da UFF. Curador na área de fotografia, com dezenas de exposições realizadas no Brasil e no exterior, é coordenador do FotoRio – Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro desde 2003. Desde 1978 vem produzindo uma vasta documentação sobre os povos indígenas no Brasil e sobre questões identitárias na África Ocidental, que resultaram em dezenas de exposições no Brasil e no Exterior.
OBRA
A foto indígena de Milton Guran registra uma cena de uma aldeia Kamayurá do Xingu, com a luta de Uka-uka no primeiro plano e uma casa tradicional ao fundo. Os Kamayurá são um povo tupi-guarani que, provavelmente, se deslocou para o interior quando da chegada dos portugueses. Fazem o mesmo tipo de casa, são muito semelhantes com os Tupinambá culturalmente e, provavelmente, também fisicamente.
MANA BERNARDES
Carioca, designer, artista plástica, poeta e artesã. Seus manuscritos e poemas estão presentes em diversos projetos, como uma obra permanente no Museu do Amanhã e uma instalação digital no Museu da Língua Portuguesa. Desde 2011, ela atua como designer de objetos para a Tok Stok, incluindo em suas linhas seus princípios de envolvimento humano, como na série de vidros reciclados. Participou de exposições coletivas como: Museu de Arte do Rio, 2018, MuDe – Museu de Design de Lisboa, 2018, Portugal; MAD Museum, em Nova Iorque, 2014, MAXXI Museu, em Roma, 2012; e Fondation Cartier, em Paris, 2005.
OBRA
Por meio de um manuscrito pintado, obra poética inédita criada a partir de sua experiência no local, a artista Mana Bernardes ilumina e revela as várias camadas e texturas do Caminho Ancestral da Glória.
ANTONIO TON
Carioca, representante do Coletivo de Arte Urbana @sonacorreria, pioneiro nas pinturas artísticas de quadras poliesportivas do Rio de Janeiro. Coordenador artístico da plataforma de arte urbana e esporte @payback. Exposições 2019 Coletiva Cofre, Espaço Apis Sistema Nervoso Central, Espaço Apis 2020 Coletiva "Sob a gravidade de um pequeno Sol" no Solar Grandjean de Montigny; Individual Natureza Urbana, Galpão Hélio G. Pellegrino/Comlurb; Projeto Arte na Fonte, Galeria Úmida; Travessia Ecológica Stone House, Casa de Pedra - Ipanema.
OBRA
O mural Ancestral de Antonio Ton traz inúmeras referências culturais e várias camadas históricas que se sobrepõem nesse território. Desde os rios, passando pela fauna, flora, as origens pulsantes da cidade indígena, africana e contemporânea. São novas linguagens de memória que ocupam os muros da cidade.
JAIR DE SOUZA
Com formação internacional em cinema, cromatologia, design e antropologia, Jair de Souza é um criador multimídia original por sua visão esférica das coisas, unindo arte, conhecimento, tecnologia, design e comunicação em seus trabalhos. Atua como curador, diretor de arte e design expográfico em exposições.
OBRA
O designer convidado, Jair de Souza, sintetizando e compatibilizando as linguagens, faz uma convocação visual para conhecermos o Território Uruçumirim. Integrante do coletivo Rio Tupinambá Karioka, o artista sintetiza por meio da flecha vermelha a terra ancestral cercada por buracos que traduzem a violência atemporal sofrida pelos povos indígenas.
ANÁPUÀKA TUPINAMBÁ
Baiano, formou-se em Politécnico EAD Gestão em Marketing na Estácio de Sá, Rio de Janeiro, com Extensão Jornalismo Político - UFRJ|ECO. De Abya Yala, filho de Pindorama, nação tupinambá, ancião e avô, comunicador, empresário do setor da cultura indígena no Brasil, Tecno-xamanista, arte indígena orgânico e virtual, produtor executivo, gestor da rede de cultura digital indígena, blogueiro, repórter e comunicador. Em 2013, idealizou e fundou a Grupo de Comunicação Yandê, primeira empresa brasileira de comunicação indígena, e também a Rádio Yandê, uma rádio web 100% indígena.
OBRA
A ambientação sonora do Caminho Ancestral é do artista Anápuàka Tupinambá, que traz para o local a programação da sua rádio Yandê, a primeira rádio indígena do Brasil. Afinal, é na música brasileira que os tempos e as culturas se encontram. Na instalação, o som ancestral emerge da terra.
VÍDEO
FICHA TÉCNICA
Inspirações Ilimitadas
Produção Executiva e Curadoria:Mariana Varzea
Artistas apoiados pelo Edital Rua Cultural:Anápuàka Tupinambá / Antonio Ton / Cesar Duarte / Mana Bernardes / Milton Guran
Designer convidado:Jair de Souza
Assistente de Produção:Roberto Ainbinder
Execução das pinturas:Antonio Ton
Assistente:Felipo Martucci
Video, edição e montagem:Cesar Duarte
Assessoria de Imprensa:Join Comunicação
Nancy Torres
Hotsite:samambaia.digital
Impressão Fotográfica:Studio Alfa
Apoio e Manutenção:Piti Serviços e Reformas
Agradecimentos:Armando Strozenberg, Dalton Pastore e equipe ESPM, João Braune e equipe Casa da Glória, Coletivo Rio Tupinambá Karioka, Flora Reghelin, Lucas Santana (drone) e VJ Carol Santana.
Imagens:Site ogloria.art.br
CONTATO
[email protected]INSPIRAÇÕES ILIMITADAS
A Empresa Inspirações Ilimitadas atua na produção de conteúdo em cultura, planejamento e gestão de museus e projetos culturais, e na capacitação de profissionais e instituições do campo dos museus, centros culturais, empresas, organização de cultura, memória e de arte, públicas ou privadas.
Foi criada em 2016, pela museóloga Mariana Várzea para propor e realizar projetos diferenciados na área de cultura, com foco na aprendizagem, inclusão e inovação cultural, bem como atender as demandas crescentes na área cultural.
DIREÇÃO E CURADORIA
MARIANA
VARZEA
Moradora da Glória, a carioca Mariana Varzea tem dedicado sua vida à cultura e aos museus. É graduada em museologia, com especialização em História da arte e da arquitetura, mestrado em História Social pela PUC Rio e doutora em Museologia na Universidade de Museologia, pela Lusófona de Lisboa. Há 30 anos atua nas áreas públicas, privadas e comunitárias, desenvolvendo inúmeros projetos e iniciativas de impacto social e cultural. Atua, ativamente e voluntariamente, em entidades como o Conselho Internacional de Museu, no Brasil (ICOM-BR), a Associação Brasileira de Gestão Cultural (ABGC) e o Conselho Regional de Museus (Cremerj). Trabalha em colaboração com diversos parceiros, a partir de sua empresa Inspirações Ilimitadas (2016) – uma consultoria especializada em identificar e desenvolver inovação para museus e iniciativas culturais.